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Semana Farroupilha 05/09/2025

É gratificante, em setembro, especialmente durante a Semana Farroupilha, testemunhar a movimentação, a mobilização e, sobretudo, as demonstrações de amor ao solo em que nascemos.
Todos os segmentos da comunidade gaúcha se envolvem, especialmente as escolas - e aqui merecem destaque e louvores os professores - que dedicam espaços para o estudo da nossa história, desfiles temáticos, apresentações artísticas, lidas campeiras e tantas outras manifestações que mantêm vivas as mais autênticas tradições.
O Rio Grande do Sul teve um processo de colonização muito distinto do restante do Brasil. Enquanto, na maioria dos estados, a influência inicial e predominante foi portuguesa, no território gaúcho prevaleceu a herança espanhola. Nosso Estado, um apêndice do território brasileiro localizado ao sul, distante das regiões do norte por onde chegaram os descobridores lusos, fazia parte do chamado Pampa Gaúcho, que se estendia do Atlântico até as escarpas do Chile, abrangendo o que hoje conhecemos como Argentina, Uruguai e as planícies da região sul do nosso território, conhecida atualmente como fronteira.
Os primeiros habitantes eram povos indígenas: Charruas e Minuanos nas planícies, e, na região serrana, povos de fala Gê. Séculos mais tarde, chegaram os Guaranis, vindos da Amazônia. Esse povo apresentava significativo desenvolvimento cultural para a época: praticava agricultura, cultivava algodão e hortaliças, produzia artesanalmente a erva-mate e consumia o caomi, precursor do chimarrão. Sabiam trabalhar a cerâmica para uso doméstico, eram guerreiros temidos e influenciaram fortemente a cultura dos nativos locais.
Do outro lado do hoje rio Uruguai, os padres jesuítas espanhóis evangelizavam os indígenas nas reduções, povoações fixas que se dedicavam à criação de gado e à agricultura de subsistência. Naquele tempo, os produtos de maior valor eram o couro - usado para roupas, arreios e bolsas - e o sebo, empregado na produção de iluminação e calor.
Graças às pastagens férteis do Pampa e ao uso da mão de obra indígena, as reduções jesuíticas prosperaram, formaram grandes rebanhos e se tornaram exportadoras, acumulando riquezas que despertaram cobiça e geraram constantes ataques de salteadores. Mais tarde, ao atravessar o rio Uruguai e instalar-se em território gaúcho, os jesuítas ampliaram suas reduções, o que atraiu a atenção da Coroa portuguesa. Disputas territoriais entre Espanha e Portugal marcaram nossa formação histórica, resultando em guerras memoráveis, sacrifícios e sangue derramado, até consolidar-se o território gaúcho.
Naquela época, teria sido mais natural unir-nos ao Uruguai, à Argentina ou até constituir uma nação independente. Porém, desde cedo, nós, gaúchos, optamos pela integração ao Brasil.
A Semana Farroupilha, tal como celebramos hoje, relembra a guerra que durou dez anos, quando os gaúchos, sem soldados regulares e maltrapilhos - daí o nome “Farroupilhas” - lutaram contra as tropas do Império em busca de direitos. Mesmo em desvantagem numérica e bélica, demonstraram destemor e heroísmo, igualando forças em batalhas históricas. Fica claro que os farroupilhas lutaram pela preservação de direitos e ideais, e não com fins separatistas.
 
Artigo publicado em 18/09/2015

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