COLUNISTAS
31/10/2025
RONALDO SANTINI E O
XADREZ POLÍTICO REGIONAL
À medida que se aproxima o pleito de 2026, o cenário político regional começa a ganhar contornos de estratégia e expectativa. Entre os nomes de maior expressão está o do secretário estadual do Turismo e deputado Ronaldo Santini (Podemos), que já confirmou sua intenção de buscar a reeleição à Assembleia Legislativa. A trajetória consolidada do parlamentar, somada à sua capacidade de articulação em nível estadual, o mantém como uma das figuras mais influentes do cenário político do nordeste gaúcho. No entanto, nos bastidores, há uma cautela política perceptível entre lideranças locais, especialmente em Lagoa Vermelha. A avaliação é de que, caso Santini não assegure novo mandato estadual, ele poderia - e com naturalidade - voltar seu olhar para o município, disputando a Prefeitura em 2028.
Essa possibilidade, longe de ser um temor pessoal, é vista como uma hipótese de grande peso político, capaz de redesenhar o equilíbrio de forças entre o Podemos e o PP, atual partido de governo.
UM NOME DE FORÇA E RECONHECIMENTO
Ronaldo Santini carrega consigo um ativo político robusto: experiência parlamentar, reconhecimento público e trânsito consolidado em diferentes esferas. Foi deputado federal, ocupa hoje o cargo de secretário estadual do Turismo e mantém influência significativa em pautas de interesse regional. Para uma cidade do porte de Lagoa Vermelha, um nome com esse alcance e visibilidade teria potencial para recompor alianças, mobilizar eleitorado e despertar novas articulações.
Por isso, o que se percebe não é propriamente medo, mas uma leitura de cenário: Santini, com sua trajetória e capital político, é um nome que não pode ser ignorado em qualquer projeção futura para o Executivo municipal. Sua eventual candidatura teria o poder de reorganizar blocos e gerar movimentações antecipadas dentro e fora do campo governista.
A RELAÇÃO COM O GOVERNO MUNICIPAL
Hoje, o Podemos integra a base do governo municipal, com o vice-prefeito Alessandro Muliterno compondo a atual gestão. Essa parceria tem se mostrado estável e produtiva. Porém, a política - sobretudo em municípios de médio porte - vive de movimentos cíclicos. Se o cenário estadual não favorecer Santini, a reaproximação com a base lagoense pode assumir novo formato, não necessariamente de ruptura, mas de protagonismo local. Seria, portanto, um reposicionamento estratégico, legítimo dentro do jogo democrático.
2028: POSSIBILIDADE OU
PLANO DE LONGO PRAZO?
O próprio Santini já declarou, em diferentes momentos, que pretende retornar à política municipal em algum momento de sua carreira - uma intenção que, aliás, não surpreende. Muitos políticos experientes, após anos de atuação em esferas mais amplas, optam por reconectar-se com suas origens, aplicando no município o conhecimento adquirido.
Assim, a hipótese de uma candidatura futura à Prefeitura de Lagoa Vermelha não soa improvável, tampouco precipitada. É, na verdade, uma construção natural de quem ainda possui planos de longo alcance e uma ligação afetiva e política com sua terra.
LÓGICA POLÍTICA MADURA
A eventual candidatura de Ronaldo Santini à Prefeitura de Lagoa Vermelha em 2028, caso não reassuma cadeira no Parlamento Gaúcho, não deve ser lida como ameaça, mas como cenário possível dentro de uma lógica política madura. A presença de um nome com trajetória sólida, prestígio estadual e raízes locais apenas eleva o nível do debate e valoriza a disputa democrática.
E é importante registrar que a grande maioria da população e das lideranças regionais torce pela reeleição de Santini como deputado estadual, reconhecendo nele uma voz forte não apenas de Lagoa Vermelha, mas de toda a região.
A política é, afinal, o espaço onde as possibilidades se transformam em projetos - e as previsões em realidade.
MUDANÇA SIGNIFICATIVA
NO LEGISLATIVO
A decisão da Mesa Diretora da Câmara de Vereadores de Lagoa Vermelha de seguir o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) e não mais permitir a convocação de suplentes em licenças inferiores a 120 dias altera de forma importante a dinâmica política local. A medida, tomada há alguns meses, tem repercussão direta sobre os partidos e já começa a gerar preocupação nos bastidores em relação às eleições de 2028. Por outro lado, há quem veja na decisão um avanço institucional. A prática anterior, embora amparada por interpretações políticas, feria o princípio da moralidade administrativa e criava uma espécie de “rodízio informal” de cadeiras. A limitação imposta pelo STF, nesse sentido, traz mais clareza jurídica e evita distorções no exercício do mandato popular.
O FIM DAS LICENÇAS “SIMBÓLICAS”
Durante muito tempo, era comum que suplentes assumissem por períodos curtos - de um mês, por exemplo - em acordos informais dentro dos partidos. Essa prática servia como uma forma de reconhecimento àqueles que, embora não eleitos, haviam contribuído com votos e fortalecido as chapas proporcionais. Com a nova regra, esse “gesto político” deixa de ser possível. Agora, somente licenças superiores a 120 dias poderão abrir espaço para suplentes, o que reduz drasticamente as chances de experiência parlamentar para novos nomes.
Por outro ângulo, é preciso reconhecer que tais licenças curtas, em muitos casos, eram vistas como arranjos políticos sem ganho efetivo à sociedade. Os suplentes assumiam sem tempo hábil para apresentar projetos, compreender rotinas legislativas ou exercer papel fiscalizador relevante. A interrupção dessa prática, portanto, pode contribuir para uma atuação mais estável e responsável do Legislativo.
IMPACTOS NAS ESTRATÉGIAS PARTIDÁRIAS
Os partidos, especialmente os de médio e pequeno porte, tendem a enfrentar maior dificuldade para formar nominatas. A falta dessa possibilidade de participação simbólica poderá desmotivar candidatos que tradicionalmente aceitavam disputar sem expectativa real de vitória, mas com a esperança de assumir temporariamente. Em um cenário onde a visibilidade e o capital político são determinantes, o jogo se torna mais restrito aos nomes já consolidados ou aos que detêm estruturas partidárias mais robustas. Por outro lado, a mudança também força uma profissionalização das campanhas. Os partidos precisarão apostar em quadros realmente engajados, e não apenas em “complementadores de legenda”. A redução de candidaturas meramente figurativas pode levar a uma eleição mais competitiva e autêntica, baseada em propostas e mérito político, e não em acordos de bastidor.
RENOVAÇÃO POLÍTICA EM XEQUE
A medida, embora juridicamente correta e alinhada à Constituição, pode acabar reforçando a barreira de entrada na política local. Candidatos estreantes ou com pouca projeção terão menos incentivos para se lançar, já que a chance de exercer, ainda que brevemente, o mandato era um atrativo importante. O resultado pode ser um Legislativo ainda mais concentrado em figuras tradicionais, reduzindo a renovação que tantos eleitores dizem desejar.
Contudo, a renovação política genuína não deveria depender de licenças simbólicas. Ela nasce da mobilização social, da construção de lideranças comunitárias e do envolvimento de cidadãos que enxergam o mandato como serviço público e não como vitrine pessoal. Nesse sentido, a decisão pode ser um divisor de águas entre o oportunismo e a vocação política verdadeira.
NOVO CENÁRIO PARA
OS PARTIDOS LAGOENSES
É bom lembrar que partidos como o PP, hoje com quatro vereadores; o PL, com três; o PDT, com dois; e o Podemos, com um vereador; além do PT, que mantém uma cadeira, se deparam para 2028 com uma nova realidade política. A dúvida é inevitável: conseguirão manter as atuais posições no Legislativo diante das novas regras e de um cenário mais restrito para suplências e articulações de bastidor?
A medida aprovada pela Câmara pode beneficiar os partidos já instalados, uma vez que a visibilidade dos vereadores em exercício tende a fortalecer seus nomes e suas estruturas internas. Por outro lado, ela pode enfraquecer a pluralidade política, dificultando o ingresso de novas lideranças e a oxigenação natural que ocorre com a rotatividade de suplentes - ainda que breve, essa participação servia como vitrine para novos quadros. Entre os partidos sem representação atual na Câmara, como PSDB, Republicanos, PSD, PSB e MDB, o desafio é ainda maior. Sem assento e sem a possibilidade de “experiências simbólicas” por meio das licenças curtas, essas siglas precisarão redobrar o esforço na base, fortalecer lideranças locais e construir campanhas com apelo real. O trabalho de bastidor e a presença comunitária, que muitas vezes ficavam em segundo plano, tornam-se agora essenciais para qualquer tentativa de retorno ou conquista de espaço.
TESTE DO NOVO MODELO
O equilíbrio entre fortalecer o mandato efetivo e preservar a representatividade democrática é, portanto, o grande teste desse novo modelo. A decisão moraliza o sistema, mas pode consolidar ainda mais o poder nas mãos dos mesmos grupos políticos - um ponto que, inevitavelmente, fará parte do debate eleitoral em Lagoa Vermelha nos próximos anos. O tempo dirá se a medida servirá como freio à prática política antiga ou se se tornará mais um obstáculo para quem tenta, pela primeira vez, conquistar espaço no cenário público local.
A DEMOCRACIA NOS DETALHES
As eleições de 2022 para deputado federal em Lagoa Vermelha revelaram um aspecto curioso e ao mesmo tempo simbólico: dezenas de candidatos de diferentes legendas receberam apenas um único voto no município. Embora pareça um dado irrelevante à primeira vista, esse número mostra a dimensão da democracia - onde cada eleitor tem o direito de expressar sua escolha pessoal, por afinidade, convicção ideológica ou simples simpatia por um nome. Esses votos solitários refletem, de certa forma, a pluralidade do eleitorado lagoense, que distribuiu suas preferências entre nomes conhecidos e candidatos pouco divulgados, vindos de diferentes regiões do Estado e do país.
UMA AMOSTRA DA DIVERSIDADE PARTIDÁRIA
A relação de candidatos com apenas um voto em Lagoa Vermelha abrange quase todo o espectro político brasileiro. Entre eles estão nomes como Jorge Luiz da Costa Pimentel e Henrique Morini Querol, do Solidariedade; Eduardo Keller e Marco Antônio da Rosa Marchand, do Republicanos; Edmilson Freire Pinto e Eraldo Antônio Almeida Roggia, do PTB; Paula Holzmann de Almeida e Abdias Felipe Franco, do Avante; Carina Belome Lemes e Tatiana Rheingantz Armos, do PSC; Andréia Pinheiro Vagheti e Jorge Alan Souza, do PSDB; Paloma de Freitas Daudt e Bruno de Azambuja Silveira, do PSOL; Joacir Picolotto e Henrique Mascarenhas de Souza, do PT; Nereu Crispim e Silvana Machado Vargas, do PSD; Jolisa Duarte de Matos e Marcos Dias Ferreira, do PP; Felipe Alexandre Klein Diehl e Adriana Leite da Silva, do PL; Charles Bernhard Schulle e Leo da Silva Alves, do Novo e PSB, respectivamente; José Ricardo Adamy da Rosa e Alzira Janice Peres Leal, do MDB; Cesar Elisandro Bilycz de Camargo e Nikaya Martins Vidor Moura, do PDT e PSTU; entre outros.
Essa pequena amostra já evidencia o quanto o voto lagoense é multifacetado, passando por siglas tradicionais, como PP, PL, PSDB, MDB e PT, até partidos de menor expressão nacional, como UP, PSTU e PSC.
O SIGNIFICADO DESSES VOTOS
Esses votos únicos têm um valor simbólico. São marcas de uma democracia viva, onde cada eleitor tem o poder de escolher, mesmo que sua decisão não represente uma tendência coletiva. Um único voto pode vir de um familiar, de um amigo, de um simpatizante distante ou de alguém que encontrou no nome do candidato um sinal de identificação pessoal. É o voto da consciência individual, aquele que reafirma a liberdade do processo eleitoral.
Enquanto milhares de votos se concentraram em nomes como Covatti Filho, do Progressistas - o mais votado com 4.000 votos -, outros candidatos deixaram apenas uma pequena, mas significativa, marca na história eleitoral do município.
UM MOSAICO DE PARTICIPAÇÃO
A soma desses registros, embora mínima em quantidade, tem valor qualitativo. Representa o direito de escolha em sua forma mais pura e individual. Mostra que Lagoa Vermelha é um retrato da diversidade brasileira, onde convivem lado a lado o voto pragmático, o voto regional e o voto de opinião.
Num cenário político cada vez mais polarizado, esse mosaico de pequenos gestos revela algo essencial: a democracia não é feita apenas de maioria, mas também de pluralidade.


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