COLUNISTAS
No Brasil não tem Hora H nem Dia D 10/10/2025
Texto dr Percival Puggina
O Brasil é um país grande, populoso e diversificado, num berço esplêndido. Ou seja, o Brasil é lento. Nossas tolices são mansas e nossos hábitos comandam nossas percepções. Até o futebol brasileiro perde agilidade; nossos craques passam mais tempo recuando a bola e pensando no que fazer do que fazendo. Regiões inteiras se acomodam até ao petismo estrutural – “As coisas, aqui, são assim”, explicam, quando perguntados sobre tão sinistra conformidade com o infortúnio. Não se espere deste canto do planeta qualquer manobra brusca, salto ágil, pirueta genial, compreensão abrupta de problemas e soluções institucionais.
Foi essa característica que tornou possível a gradual construção e adaptação social ao controle que a maioria dos ministros do STF passou a exercer sobre a política. Contra a opinião de um punhado de bravos, a maioria do Congresso, em quietude pastoril, submeteu-se ao esvaziamento das próprias prerrogativas, às decisões furiosas de quem pensa com o fígado, à hipertrofia do STF, a atrofia do Legislativo e ao absenteísmo de um governo eventual, mas turista em modo contínuo.
A indignidade dos meios pelos quais se foi afirmando a submissão do parlamento a uma democracia ao jeito do Supremo só encontra expressão nas redes sociais e em umas poucas vozes no Congresso Nacional.
Uso a palavra governo para facilitar a compreensão. O Palácio do Planalto, sabemos todos, está formalmente ocupado por um grupo político cuja principal prova de existência é fornecida quando, alinhada sobre um palco, racha os dedos aplaudindo e rindo feliz com a cesta básica de tolices que Lula costuma fornecer.
Não, não estou exagerando nem depreciando o presidente. Foi ele que em meio à maior crise instalada nas relações internacionais do Brasil desde 1822 gravou um vídeo oferecendo jabuticabas a Donald Trump e reduzindo as dificuldades de nossa diplomacia às proporções de um jogo de truco. Semanas depois, quando o mundo todo agiu com pressa, disse que estava com a agenda lotada, sem tempo para conversar com o presidente americano. Essa miséria intelectual só poderia dar no que deu. Assim como muitos bispos medievais dormiam com a chave do portão da cidade embaixo do travesseiro, a economia dorme embaixo do travesseiro de Lula.
Só das combatidas redes sociais vem o necessário jornalismo, obediente ao irônico preceito de Millôr Fernandes, para quem “jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos e molhados”. Jornalismo só pode ser feito por quem não é cortesão, por quem não faz questão de ter acesso aos privilégios palacianos das Versalhes do poder.


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