COLUNISTAS

19/09/2025

SINDICOMERCIÁRIOS NO LEGISLATIVO
Na noite de segunda-feira, 15 de setembro, a presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Lagoa Vermelha, Jacieli Aparecida Klaus, utilizou a tribuna da Câmara de Vereadores para tratar de um tema que vem gerando debates em todo o país: a abertura do comércio aos domingos e os impactos sociais e familiares dessa medida. Em um pronunciamento firme e carregado de exemplos práticos, a dirigente sindical pediu maior atenção às condições de vida dos trabalhadores e alertou para a necessidade de diálogo com a categoria antes de qualquer decisão.
 
A VOZ DOS TRABALHADORES NA TRIBUNA
     Com o plenário atento, Jacieli iniciou sua fala agradecendo a oportunidade e destacando a relevância do espaço legislativo como ambiente de discussão democrática. Em seguida, destacou que o comércio local é composto por homens e, em grande maioria, mulheres que enfrentam longas jornadas, pressão por metas e pouco reconhecimento. “São pessoas que acordam cedo, passam horas em pé e, muitas vezes, não encontram suporte para cuidar de seus filhos. Muitas são mães solo, que não têm rede de apoio. Como garantir dignidade a essas trabalhadoras se o município não oferece creches aos sábados e domingos?”, questionou.
 
O DOMINGO COMO DIREITO HUMANO
Em um dos trechos mais enfáticos de sua fala, Jacieli lembrou que o domingo é tradicionalmente reconhecido como o dia de descanso, convívio familiar e lazer. “Não é apenas um direito trabalhista, é um direito humano básico”, frisou. Para ela, transformar o domingo em mais um dia de expediente, sem diálogo e sem garantias de compensação, significa atacar a qualidade de vida da classe trabalhadora. A sindicalista também provocou os vereadores: “Houve consulta com os empregados do setor antes de colocar o tema em votação? Os trabalhadores foram ouvidos? A realidade mostra que muitos sequer têm ciência das regras que deveriam protegê-los”.
 
O PAPEL DOS SINDICATOS
Outro ponto central do pronunciamento foi a defesa da atuação sindical. Jacieli explicou que cabe ao sindicato negociar convenções coletivas, fiscalizar o cumprimento das leis e equilibrar a relação entre patrões e empregados. “Sem sindicatos fortes, os trabalhadores ficam à mercê das vontades do mercado. É o sindicato que assegura escalas justas, que cobra das empresas e do poder público o cumprimento da legislação e que dá voz à categoria”, reforçou.
Ela também destacou a importância de reconhecer a legitimidade das entidades locais, criticando empresas que tentam se vincular a sindicatos de outros municípios. “Quem representa o trabalhador é o sindicato da base onde ele atua. Se a empresa está em Lagoa Vermelha, quem representa é o sindicato daqui”, esclareceu.
 
EQUILÍBRIO ENTRE 
ECONOMIA E DIREITOS
Embora reconheça o papel do comércio como motor da economia local, Jacieli defendeu que o crescimento econômico não pode se sobrepor aos direitos sociais. Segundo ela, escalas de revezamento, descanso compensatório e remuneração justa são ferramentas fundamentais para garantir equilíbrio.
Citando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), lembrou que há regras específicas que limitam jornadas consecutivas aos domingos, mas que muitas vezes não são respeitadas. “Na prática, sabemos que nem sempre o que está na lei é cumprido. Cabe ao sindicato fiscalizar e, quando necessário, acionar a Justiça”, afirmou.
 
UMA LUTA PELA DIGNIDADE
A presidente também chamou atenção para a necessidade de valorização do trabalhador do comércio. “O empregado bem remunerado trabalha com prazer, mas precisa ser respeitado. Ninguém quer trabalhar de segunda a segunda, sem folga, sem convívio com a família. O trabalhador é ser humano, não é máquina, não é número”, frisou.
Ela ainda lembrou que a convenção coletiva vigente na região é fruto de negociação entre sindicatos laboral e patronal, e que esse instrumento é o que garante equilíbrio entre interesses. “Muitos falam em dissídio, mas esquecem que só existe dissídio judicial quando não há acordo. Aqui, nós negociamos, conversamos e chegamos a termos coletivos”, explicou.
 
APELO À SOCIEDADE 
E AO PODER PÚBLICO
Encerrando sua fala, Jacieli fez um apelo amplo às autoridades, empregadores e à própria comunidade. “Sem trabalhadores, não existe comércio. E se queremos uma sociedade justa, equilibrada e produtiva, precisamos garantir que o desenvolvimento econômico caminhe lado a lado com os direitos sociais”, destacou.
A sindicalista pediu empatia e responsabilidade com a categoria que, segundo ela, é a espinha dorsal do comércio local. “Somente a decisão coletiva dos trabalhadores poderá mudar essa realidade. A lei liberta, mas a liberdade sem limites extravisa. Vamos respeitar os direitos dos comerciários e assegurar que o domingo continue sendo espaço de descanso e dignidade”, concluiu.
 
ARIOVALDO DEFENDE SINDICATOS
Na mesma sessão, o vereador Ariovaldo Carlos da Silva (PDT), que também atua junto ao Sintracom - Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil, utilizou a tribuna para reforçar a importância do movimento sindical e repudiar os ataques sofridos por entidades de trabalhadores, especialmente nas redes sociais.
 
CRÍTICAS AOS 
ATAQUES AOS 
SINDICATOS
Ariovaldo demonstrou solidariedade à presidente do Sindicato dos Comerciários e criticou a desinformação que circula contra sindicatos.
“É preciso lembrar que muitos criticam sem conhecer. Atacam os sindicatos de trabalhadores, mas não questionam os sindicatos patronais, que também cumprem o seu papel. Criticar sem conhecimento é um absurdo”, afirmou.
 
DIREITOS CONQUISTADOS 
PELA LUTA SINDICAL
O vereador destacou que conquistas fundamentais da classe trabalhadora só foram possíveis graças à atuação sindical.
“O décimo terceiro salário, as férias remuneradas, a multa de 40% do FGTS - tudo isso foi resultado da luta dos sindicatos de trabalhadores, que enfrentaram perseguições e até mortes em defesa desses direitos”, frisou.
 
PAUTA ATUAL: ISENÇÃO DO IMPOSTO DE RENDA
Ariovaldo também lembrou que os sindicatos estão à frente da mobilização em defesa da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, projeto que tramita no Congresso Nacional.
“Mais uma vez, quem luta por esse benefício são os sindicatos. E, ainda assim, muitos que serão beneficiados são os que dizem que sindicato não deveria existir”, criticou.
 
TRANSPARÊNCIA E LEGITIMIDADE
Reforçando a legitimidade do movimento sindical, Ariovaldo destacou que a participação é democrática.
“Ninguém é obrigado a estar associado. As assembleias do Sintracom reúnem centenas de trabalhadores, de forma transparente e às claras. Essa é a verdadeira voz da categoria”, concluiu.
CHARISE DEFENDE DIÁLOGO
Também fazendo uso da tribuna, a vereadora Charise Bresolin (Progressistas) destacou a necessidade de equilíbrio na relação entre empregados e empregadores. Ela reconheceu não ter conhecimento aprofundado sobre sindicatos, mas defendeu o diálogo como caminho para construir soluções e ressaltou sua vivência pessoal para compreender os desafios enfrentados por trabalhadores que atuam nos finais de semana.
 
EXPERIÊNCIA PESSOAL NO TRABALHO
A parlamentar relatou sua trajetória, lembrando que começou a trabalhar aos 13 anos em festas infantis, sem fins de semana de descanso por longos anos. “Eu sei como é, porque durante dezesseis anos não tive um churrasco de domingo. Muitas vezes levava minha filha junto para o trabalho porque não havia creche”, contou.
 
LIBERDADE E DEMOCRACIA
Charise afirmou não ser contra os sindicatos, mas sim a favor da democracia e da liberdade de escolha. “Não existe comércio sem trabalhador, mas também não existe trabalhador sem empresário. É uma troca mútua, e os dois lados precisam dialogar. Também há trabalhadores que querem atuar aos finais de semana, e é preciso respeitar essa liberdade”, disse.
Para a vereadora, impor modelos sem considerar a pluralidade das situações pode gerar injustiças. “Temos que olhar para aquele que deseja estar com a família em casa, mas também para quem encontra no trabalho uma forma de se realizar e de construir vínculos sociais”.
 
CONSENSO
A vereadora reforçou que a busca por consenso deve prevalecer. “Lagoa Vermelha é a capital da amizade, e precisamos honrar esse título. O diálogo é sempre o melhor caminho. É preciso olhar para todos os lados e encontrar um ponto de equilíbrio”, declarou.
 
FAKE NEWS, REDES SOCIAIS 
E ATAQUES PESSOAIS
Em outro momento, Charise compartilhou sua experiência pessoal com ataques nas redes sociais e notícias falsas. Ela relatou já ter sido alvo de perseguições políticas e até ameaças em razão de seu posicionamento público.
“Eu sei o que é ser atacada. Fui perseguida aqui dentro desta Casa, fui alvo de fake news nas eleições, onde chegaram a dizer que eu não poderia assumir o cargo. Isso se mostrou mentira, o responsável foi processado e acabou multado. Mas até provar que era fake, o desgaste já tinha ocorrido”, contou.
A vereadora destacou ainda como a internet tem se tornado um espaço onde muitos emitem opiniões sem conhecimento de causa. “Hoje a internet virou um fórum, cheio de ‘juízes’ que emitem sentenças. Muitas vezes não são críticas construtivas, mas ataques pessoais. Isso fragiliza a política, fragiliza as instituições e, em última análise, prejudica a própria democracia”, alertou.
 
DEFESA DA LIBERDADE DE
EXPRESSÃO COM RESPONSABILIDADE
Charise concluiu sua fala reforçando que é a favor da liberdade em todas as suas dimensões - econômica, política e individual -, mas lembrou que liberdade deve caminhar junto com responsabilidade.
“Eu sou contra o autoritarismo. Sou a favor da democracia e da liberdade, mas precisamos ter consciência de que nossas palavras têm consequências. Assim como defendo que o trabalhador tenha o direito de escolher, defendo que o debate público seja feito com respeito, sem perseguições e sem mentiras”, afirmou.
Com sua manifestação, a vereadora buscou ampliar o debate para além da pauta trabalhista, chamando atenção para a necessidade de civilidade no debate político e para os perigos da desinformação em tempos de redes sociais.

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